
Leitura 09/2021
O imitador de homens [1980]
Orig. Mockingbird
Walter Tevis (1928-1984)
Rádio Londres, 2019, 288p
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“Durante anos a fio, ele achara que, se conseguisse encontrar uma mulher como aquela e viver com ela, encontraria a chave da outra vida vivenciada por sua consciência — a vida daquele cujo cérebro havia sido copiado para criar o seu. E agora ele estava fazendo isso. Mas não encontrara a chave” (Posição Kindle 2327).
“Todos aqueles livros — até mesmo os entediantes e quase incompreensíveis — me fizeram entender mais claramente o que significa ser um homem” (Posição Kindle 3948).
Se você assistiu (ou leu) O gambito da rainha, a saga da jovem enxadrista Beth rumo ao topo, então você deve ser saber que seu autor, o escritor americano Walter Tevis, gosta de produzir literatura distópico com pitadas de ficção científica.
O ótimo “O imitador de homens”, escrito nos anos 80, conta, a três vozes distintas, um mundo onde coisas como laços humanos, leitura de livros e valores foram esquecidos e substituídos por hábitos robotizados (em parte fomentado pela grande quantidade de robôs) e uso desenfreado de psicotrópicos.
Sendo espécie de distopia passada nos anos 2400, o livro uma sociedade decadente onde humanos viciados em drogas, inférteis e cada vez em menor número são quase que dominados por máquinas que, de certa maneira, foram criados para servi-los. É nessa atmosfera de desengano e solidão que o autor traça uma busca pela essência humana, esquecida há tanto tempo, e ansiada pelo robô narrador Spofforth, um estranho e único exemplar “tipo Nove” (os robôs são classificados de 1 a 9, conforme o grau de inteligência) que busca a chave que o diferencia dos humanos. As digressões são intensamente permeadas de dúvidas, as lembranças recorrentemente trazidas por sonhos turbulentos, de humanos que precisam reencontrar sua identidade perdida no tempo e de máquinas que anseiam por aquilo que nem sempre temos valorizado enquanto humanos.
Tevis poderia ter aprofundado mais isso no livro, sobretudo a visão de Spofforth e de suas pretenções, mas ainda assim é uma obra que vale ser lida.